Importância do flúor na pasta de dentes será debate no CIOSP

Independentemente dos que são contrários ao uso de flúor nos dentifrícios – pastas ou cremes usados para escovar os dentes –, a maioria dos cirurgiões-dentistas defende a substância sob alegação de que é um dos agentes preventivos mais viáveis contra a cárie dentária. Essa é a opinião, também, de Jaime Aparecido Cury, que vai ministrar uma palestra com o tema “Por que dentifrício fluoretado deveria ser usado do berço ao túmulo” durante o 34º CIOSP (Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo), que acontece de 27 a 30 deste mês, no Expo Center Norte, na Capital Paulista.

Cury, que é professor de Bioquímica e Cariologia na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (Unicamp), afirma que, entre vários agentes preventivos ou terapêuticos de sucesso que causaram impacto positivo na saúde e na qualidade de vida das pessoas, talvez seja difícil encontrar um que se assemelhe ao flúor.

“Até mesmo pessoas com menor acesso ao conhecimento científico sabem que o flúor protege os dentes das cáries. Por outro lado, seu mecanismo de ação não é muitas vezes bem-interpretado. Não raro, encontramos descrições incorretas, como: fortalece os dentes, inibe a produção de ácidos produzidos pelas bactérias da placa etc. Isso pode acabar dificultando a adequada indicação desse íon tão importante no controle da cárie, quer seja em crianças, adultos ou idosos”, destaca.
Afinal, como o flúor controla a cárie dental? De acordo com o especialista, o íon flúor acelera a precipitação de minerais em meio contendo íons cálcio e fosfato inorgânico – que estão presentes na saliva e na placa ou biofilme dental. Assim, ao utilizar dentifrícios com flúor, toda perda mineral ocorrendo sob o biofilme dental cariogênico tenderá a ser parcialmente revertida. Vale dizer que parte dos minerais perdidos é reposta novamente na estrutura dental. Sendo assim, o fluoreto diminui a desmineralização e ativa a remineralização do esmalte e da dentina.

“A causa da perda mineral no processo de cárie dental é a presença de um biofilme cariogênico que produz ácidos quando exposto a carboidratos fermentáveis. A presença do biofilme e sua exposição ao açúcar (principalmente à sacarose) são fatores indispensáveis para o desenvolvimento de cárie. Embora o flúor possa apresentar algum efeito antimicrobiano, diminuindo a produção de ácidos por bactérias, ele tem pouco efeito sobre esses fatores. Por outro lado, a presença do flúor no ambiente bucal é importante para reverter parte desses minerais perdidos. Essa reversão parcial da perda mineral é extremamente importante, já que reduz significativamente a velocidade de progressão das lesões de cárie”, diz Cury.

Como não existem pessoas “zero placa”, biofilmes sempre vão se formar na boca – sendo especialmente cruéis para aqueles dentes mais negligenciados durante a escovação. Daí a importância, segundo o cirurgião-dentista, de sempre usar flúor nas pastas e cremes dentais.
“As lesões por cárie aparecem em indivíduos de todas as idades, seja no esmalte, seja na superfície radicular exposta. Portanto, a associação entre higiene bucal e flúor é a maneira mais racional de controlar a cárie dental. Até mesmo 12 horas após a escovação, o biofilme terá maior concentração de fluoreto do que o biofilme de indivíduos que não utilizam pastas ou cremes dentais com flúor para escovar os dentes no mínimo duas vezes por dia. Por outro lado, lesões de cárie não são provocadas pela falta de flúor, mas pela alta exposição diária a açúcares da dieta, de tal forma que o segredo de ser ‘cárie zero’ está no equilíbrio entre a escovação dental com dentifrício fluoretado e a restrição do consumo de produtos açucarados – jamais excedendo seis vezes ao dia!”, conclui.